terça-feira, 9 de outubro de 2007

Os olhos.

Os olhos pesados,
Da noite de fogo,
Acabaram por fechar
E deitaram-se mais uma vez sem fôlego.

O respirar da noite
Toca-lhes friamente,
E num forte açoite
Abre-os de repente.

São estrelas cadentes,
A lua numa chama,
São buracos negros,
Os olhos de quem procura uma cama.

O frio que queima os ossos
Já não deixa o corpo levantar,
E os olhos, já nervosos,
Acabam, de novo, por fechar.

Mais uma noite irá passar,
Se a sorte o cobrir,
Pois no dia em que o abandone,
Fechar-lhe-á os olhos,
E para sempre o fará dormir.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Do ar da noite.

Dormem nas pedras da chaminé,
Deitam-se como garças,
E na noite, de pé,
Vestem suas farsas
E fogem do medo.

Retalham a vida que há,
E a que já jaz,
É trocada,
É vingada
Na sombra da lua
Sem véu,
Na luz do céu
Que empurra as estrelas.

Rodadas em pano,
Gritam em chamas viúvas
Que lhes envergam o engano
Do ar da noite.

Regressam de ventre lavado
Na fonte seca,
Dos olhos ao nariz acordado
Não há quem aguente e lhe meta
A cabeça de mel,
Na sarjeta
Sem nada, sem papel.