sexta-feira, 30 de novembro de 2007

No tempo que lá vai.

Torço-me para a parede branca,
Assim como as lavadeiras,
Que no tempo que lá vai,
Torciam as roupas
Que escorriam negridão.

Serei a água,
Ou o negro sujo?
Aguento a mágoa
Ou será que fujo?

Estico-me pelas estreitas ruas
Como se fossem caminhos de cabras
Onde os antigos pastores
Ouviam o chocalhar dos badalos.

Serei a pedra da calçada
Ou o som do badalo?
Aguento a facada
Ou será que não me calo?

Rodo-me como as rodas das carroças
Que puxadas, rebatiam o pó
Á medida de cada trote,
Ao som de um relincho
Dos negros cavalos.

Serei o rebater da roda,
Ou a razão do trote?
Corto a justa corda
Ou será que aqui fica até à morte?

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Sufoco.

Tenho a alma no pé
E no pé, a cabeça do pensamento.
Sinto no peito a fé
E no chão, faz a boca o juramento.

Juro de medo arrepiado
Que a alma voltará ao peito
E o pensamento será desviado
Tal como a cabeça voltará a seu jeito.

Os olhos apertarão a garganta
Que de respeito sufocará
A alma que no peito já não manda
E ao pé regressará.

Se o pé a chutar,
Restará nada de mim,
E pedirei para em teu ombro encostar
Este corpo sem alma, sem fim.